Dezembro é sempre um mês de grande azáfama todos desejam Boas Festas a todos. E eu também o desejo a quem está nesse espírito de festa, mas não o celebro.
Há cerca de 18 anos deixei de celebrar o Natal. Foi um processo longo e difícil de assunção do que era verdadeiro para mim porque a sociedade e a família tinham dificuldade em entender (acho que ainda têm) que nem todos querem ou precisam do Natal.
Atualmente a minha vida é pacífica e feliz, mas nunca me esqueço dos Natais em que nem o doce dos sonhos e das filhoses me tirava o amargo da boca e do Coração.
Como filha de pais divorciados quando eu era bem novinha foi sempre difícil o Natal, em especial quando percebi que tinha que deixar um dos meus para estar com o outro. Pelos meus 10 anos houve também um momento muito difícil para a nossa família, de muita dor para mim em particular, em que a imagem que tenho da noite de Natal é de uma profunda solidão que nunca confidenciei a ninguém. O que me lembro dessa noite foi estar em casa do meu Pai, à janela a ver a chuva a cair do candeeiro de rua, e a pensar na minha mãe que estava longe. O meu coração, o meu corpo, toda eu era saudade e tristeza.
Para mim o natal não são boas memórias, não são coisas boas.
Houve momentos em que o silêncio dentro de mim era ensurdecedor, paralisante e sufocante.
Eram muitas as razões para tal acontecer e parecia que, a cada ano, cada vez tinha mais razões para me isolar e detestar a época natalícia. Barriquei-me na minha solidão. E não era só no dia de Natal… alastrava-se a todos os dias da minha vida.
Durante anos cometi a hipocrisia de ir aos jantares de Natal de Família quando o Natal não me dizia nada a não ser dor. Um ano, ainda bem antes do meu despertar espiritual, disse NÃO. Nunca mais voltei a festas de Natal da família. Foi aí que comecei um processo de consciência do que é o Natal para mim. Foi quando decidi parar de arranjar desculpas para não viver, olhar para as razões, deixar de gastar energia nelas e canalizar a minha vontade e vitalidade para emoções e atitudes mais positivas.
O MEU NATAL É TODO O ANO.
Onde partilho, comungo e celebro a cristã em mim quando sinto que me traz felicidade e aos outros.
Para mim, Natal é um caminho de Esperança que trilho a todo o momento. A Esperança semeada no exemplo do meu muito amado Jesus como modelo de quem tem um DOM e que o partilha independentemente do que pensem dele.
Sim, para mim Jesus é esse modelo. Tinha um Dom e sabia que não ia ser bem aceite na sociedade em que vivia, mas não se escondeu, não fugiu de si mesmo.
SER CRISTÃ É PARTILHAR-ME E À MINHA VERDADE COM O MUNDO.
Hoje já não me dói a noite de Natal, mas não tenho intenção de criar essa cultura no meu filho. Preferimos passar os valores do natal como algo natural e diário.
Respeito imenso quem tem bons natais dentro de si, boas recordações e as vive com alegria. Se estão a viver a sua Verdade, que assim seja!
Decidi partilhar isto, porque sei que o que aconteceu comigo, acontece com muitas pessoas. Sentem-se forçadas a entrar na azáfama e acabam esgotadas, tristes e sós (muitas vezes no meio de muita gente).
Muitas pessoas não têm bons Natais dentro de si.
Algumas como eu transformaram-nos.
Outras entopem-nos com presentes e comida para não sentirem a dor. Um dia, a seu tempo, irão transformá-los.
SE O NATAL NÃO É PARA TI O QUE “DEVERIA” SER
Faz o melhor que sabes e sentes.
Que saibas que não estás só e que te acolho no meu Coração.
Lembra-te dos momentos em que achavas que não conseguias aguentar mais e que, afinal, conseguiste e te superaste! Dentro de ti há um herói, tantas vezes esquecido, mas sempre pronto a agir.
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